Os índios navajos, segundo uma lenda, deixavam nos seus modos de tecer um fio solto para que fosse possível recomeçar a partir de um ponto, de um falta-a-ser-trama, reatar. A cada encontro, com os textos poéticos, tecemos fios de livre associação, armação de um tecido verbal de memórias, afetos, vivências. Esses fios de linguagem cruzados, urdidura e trama de palavras, com efeitos singulares contam da experiência. A psicanálise em extensão poetar.com, em seu intento de entrelaçar poesia e psicanálise, convida a todos para o seu primeiro evento no dia 26/05/22 , às 20 horas.
Escutar a poesia com o outro/Outro, em comum com a sutil e complexa escuta psicanalítica, considerando as diversas camadas de sentido e sua impossibilidade de tudo dizer em palavras nos viabiliza pensar o evento poetar, entrelaçando o poético e seus efeitos na artesania psicanalítica.
Com a alegria dos nascimentos, nestes primeiros passos do grupo poetar.com, encontramos a sonoridade das palavras em movimento, a manifestação da imagem acústica e rítmica próprias à poesia e ao significante. Desvelando com sensibilidade notas fora do tom, irrupção fugaz do sujeito do inconsciente.
O tempo do escutar é único, transitório e só escutamos uma vez, a cada vez, aguçando o ouvido com o poético, pois o que se diga fica esquecido por trás do que se diz no que se ouve. A poesia não cessa de produzir tecido linguístico, justamente porque o Real não cessa de não se escrever. Assim como o tradutor, ao deparar-se com o impossível de traduzir, e diante dele cria soluções estéticas e criativas, o analisante no seu percurso de análise inventa soluções a partir da sua impessoal cadeia significante.
A clínica psicanalítica nos atenta para os movimentos, os pontos de reversão do discurso, o que podemos exercitar com a leitura de textos poéticos. O aparecimento de sons e palavras com força de mudar o curso do sentido, nos revelando outra cena. Outro ponto a considerar é a existência de palavras enigmas encontradas em alguns poemas, mesmo recebendo atenção cuidadosa e esforço de compreensão se fazem resistentes, esgarçam o sentido. O psicanalista, com seu fazer artesanal, acompanha o analisante no seu processo de ouvir o que fala nele, de ler cada vez mais, o significante, a música, a letra.